Quem nunca participou de uma reunião estressante na qual discutiu com um líder? Sentiu-se incapaz de esboçar uma reação durante uma situação inusitada no trabalho? Apresentou ideias desarticuladas ou fragmentadas por sentir-se pressionado ou inseguro durante um projeto? Alterou o tom de voz ao perceber a resistência do interlocutor em aceitar seus argumentos? Ou ainda sentiu-se receoso ao compartilhar soluções eficientes ou contra-argumentos consistentes em uma conferência estafante?
Você já parou para pensar como seu corpo reage em momentos como esses? A forma como reagimos em situações adversas ou difíceis geralmente foge ao nosso controle. Por esse motivo, a inteligência emocional é considerada uma das soft skills mais valorizadas no mercado de trabalho contemporâneo, mas ao mesmo tempo é citada como o calcanhar de Aquiles de alguns líderes e muitos colaboradores. Tendo em vista que o assunto é profundo e extenso, ressaltaremos nesse pequeno artigo dois aspectos, que certamente irão auxiliar nossos leitores a buscarem conhecimentos mais abalizados sobre esse tema e a colocarem em prática e satisfatoriamente processos de autorreflexão, essenciais para reaprendermos a lidar com nossos sentimentos.
Primeiramente, vale salientar que o conceito de inteligência emocional, popularizado pelo jornalista científico Daniel Goleman, tem a ver com a capacidade de gerenciar sentimentos e não com o controle de emoções, como é interpretado corriqueiramente. Os vocábulos, emoção e sentimento, embora sejam utilizados com significados análogos, na verdade, apresentam sentidos psicogênicos distintos. Na década de 30, o psicólogo bielo-russo, Lev Vygotsky, já havia comprovado isso. Posteriormente, outros estudos sobre o funcionamento do cérebro humano também revelaram que nossas emoções são fisiológicas, ou seja, involuntárias e automáticas. As emoções são reações neurobiológicas geradas pelo cérebro reptiliano, o mais instintivo e antigo do nosso organismo.
Isso significa que não controlamos as reações automáticas do nosso corpo (batimento do coração, dilatação da pupila, alteração da pressão arterial, salivação, enrubescimento etc), porque elas não participam diretamente da fase de processamento cognitivo do cérebro . Entretanto bastam milésimos de segundos, para que as emoções sejam processadas e interpretadas como sentimentos (raiva, ansiedade, ausência de reconhecimento, medo , inveja etc) perceptíveis para a nossa mente. Portanto, o sentimento é resultado de uma organização cognitiva, enquanto a emoção é uma espécie de “anestesiamento da consciência “.
A partir do instante em que o cérebro consegue mapear e classificar as emoções, reativando múltiplas áreas de linguagem em seu sistema neural , o indivíduo acessa internamente arquivos biológicos e histórico-sociais ( crenças , valores , experiências anteriores similares, traumas, comparação seletiva , voz julgadora etc ) e há uma espécie de “retomada da consciência “.
Neste momento é importante que a pessoa identifique claramente quais sentimentos subjacentes estão dificultando a comunicação interior e externa, e até que ponto está reagindo proporcionalmente à experiência vivida. Como vimos, a linguagem (diálogo interior) funciona como uma ponte que conduz ou não ao ponto de reequilíbrio durante as situações de estresse. Gradativamente, o autoconhecimento levará o indivíduo a desenvolver a capacidade de reconhecer e administrar seus próprios sentimentos e a reagir com sabedoria às emoções e aos sentimentos de outras pessoas também.
Há outro aspecto que vale à pena ser mencionado; a inteligência emocional (assim como outras soft skills) constitui-se em atributo imprescindível para o convívio em sociedade. Agir baseando-se apenas em convenções de políticas corporativas nunca o tornará um profissional plenamente competente e capacitado a agregar valores humanos significativos para clientes e colaboradores.
Goleman também propaga a ideia de que a inteligência emocional pode e deve ser aprendida desde a infância e ao longo de todas as nossas experiências de vida ,porque ela aprimora nossa comunicação, proporciona relacionamentos mais saudáveis, melhora a produtividade e a tomada de decisões, além de reduzir a ansiedade e aumentar a autoestima e a autoconfiança .
Tendo em vista, que a gestão dos sentimentos é necessária em todas as esferas de nossas vidas, nunca é demais relembrar que, em termos corporativos , “ em terra de cegos, quem tem um olho é rei“ (Among the blind the one-eyed man is king)